A obesidade
Devido a grande prevalência da morbidade, a obesidade tornou-se um tema muito discutido nos meios científico e social, repleto de dificuldades e mitos. As informações abaixo tem como objetivo tentar mostrar a obesidade no âmbito médico, sua importância e como deve ser seu manejo clínico.
O que é?
A obesidade é uma condição clínica na qual existe um acúmulo de tecido adiposo em excesso no organismo, responsável por impacto negativo na saúde (maior risco de aparecimento e desenvolvimento de outras doenças). Desde a década de 90, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a obesidade como uma doença, que deve ser prevenida, acompanhada e tratada como qualquer outra.
A obesidade nos dias de hoje:
A cada dia que passa, a prevalência de obesidade aumenta assustadoramente no mundo inteiro, principalmente nos países desenvolvidos. Atualmente, ela é a segunda principal causa evitável de morte no mundo, perdendo apenas para o tabagismo.
Dados da OMS mostram que a prevalência da obesidade dobrou desde 1980, com uma estimativa de 1,9 bilhões de pessoas obesas ou acima do peso.
Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o Brasil tem cerca de 18 milhões de pessoas consideradas obesas (IMC > 30 Kg/m2). Somando o total de indivíduos acima do peso/sobrepeso (IMC > 25,0 Kg/m2), o montante chega a 70 milhões, o dobro de há três décadas.
A obesidade infantil é uma preocupação ainda maior. Estima-se que 30% das crianças brasileiras menores de 5 anos estejam com excesso de peso.
Como diagnosticar obesidade?
Uma pessoa é considerada obesa de acordo com o valor do seu índice de massa corporal (IMC = Peso / Altura 2), representado na tabela abaixo:
Existem dois tipos bem definidos de obesidade:
a) Obesidade Andróide: também chamada de obesidade abdominal ou visceral, corresponde ao acúmulo de tecido adiposo na metade superior do corpo, principalmente no abdômen. É típica do homem e altamente relacionada com comorbidades. Correlaciona-se com a gordura intra-abdominal.
b) Obesidade Ginóide ou Ginecóide: a gordura distribui-se na metade inferior do corpo, particularmente na região glútea e coxas. Característica da obesidade feminina.
Quais são as causas de obesidade?
Engana-se quem acha que a doença simplesmente é o resultado do desequilíbrio entre consumo e gasto de energia. A complexidade da moléstia vai muito além do “come muito e gasta pouco, por isso engorda”. A obesidade é resultado de uma alteração no equilíbrio na tríade fatores genéticos, comportamentais e ambientais.
Fatores genéticos resumem-se a padrões errôneos de produção de hormônios relacionados com fome e saciedade. Já existem descritas 25 síndromes genéticas. História na família de pessoas obesas aumenta muito a chance da doença.
Os padrões comportamentais, como a compulsão alimentar ou a fome excessiva incontrolável estão diretamente relacionados com o desenvolvimento da obesidade.
Os fatores ambientais hoje são os mais em evidência. O chamado mundo moderno criou um âmbito de alimentos extremamente ricos em energia (fast foods) de fácil acesso, associados a paupérrima cultura e oportunidade de prática de atividade física, o que gera uma retenção imprópria de tecido adiposo no organismo.
Quais são as consequências da obesidade?
Várias doenças estão diretamente relacionadas com com a obesidade, dentre elas:
- Diabetes mellitus tipo 2
- Hipertensão arterial sistêmica
- Doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular encefálico (AVC)
- Pancreatite aguda
- Apnéia obstrutiva do sono
- Problemas na coluna vertebral
- Desordens de cunho psicológico / psiquiátrico
Como tratar?
Não existe mistério ou milagre no tratamento. A melhor forma de perder peso é através de dieta com acompanhamento nutricional associada à prática regular de atividade física. Lembrando-se que para ser saudável e sustentado, o processo deve ser lento. As “dietas da moda” e suas promessas de emagrecimento rápido não têm nenhum
Medicamentos: Atualmente, existe uma grande discussão ao redor dos medicamentos anti-obesidade, principalmente pela recente proibição da maioria deles nos mercados norte-americano, europeu e brasileiro.benefício comprovado, sendo muitas vezes prejudiciais à saúde.
A única medicação permitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é a Sibutramina, medicamento tarja preta que atua nos hormônios cerebrais responsáveis pela fome e pela saciedade.
Cirurgia bariátrica: o que é e quem deve fazer?
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os indicados para o tratamento cirúrgico da obesidade são os pacientes com o IMC maior que 40kg/m2, ou aqueles com IMC maior que 35 kg/m2 e que apresentem as comorbidades descritas anteriormente. Além da indicação, os pacientes devem ser submetidos a avaliações nutrológica, cardiológica e psiquiátrica.
A técnica cirúrgica depende do objetivo da cirurgia:
Restritivas: há redução do tamanho do estômago, consequentemente menor ingestão alimentar;
Disabsortivas: há um desvio no trânsito intestinal, com diminuição de absorção de nutrientes;
Mistas: restritiva e disabsortiva ao mesmo tempo.
A obesidade é uma doença epidêmica no mundo e acarreta importantes consequências para o organismo, como doenças metabólicas e cardiovasculares, relacionadas com aumento de morbimortalidade. O binômio dieta e prática de atividade física é a principal ferramenta para a prevenção e para o tratamento da doença, lembrando que o processo de emagrecimento saudável deve ser lento e progressivo. Na ocorrência de falhas, a avaliação de terapia medicamentosa anti-obesidade e a possibilidade da cirurgia bariátrica devem ser levadas em consideração, sempre individualizando caso por caso.
Dr. Lucas Lima de Carvalho, médico nutrólogo, membro da equipe da UTI Adulto do Hospital Vila da Serra