Rompimento do aneurisma da aorta abdominal tem elevada taxa de mortalidade
Para o leitor leigo que ouve falar de Aneurisma da Aorta Abdominal, mas não faz ideia do que se trata, é preciso antes relembrar alguns conceitos. A Aorta é a maior e a principal artéria do corpo humano e a que leva sangue do coração para todos os órgãos, passando pelo tórax e abdômen. De uma maneira geral, Aneurisma é quando ocorre dilatação segmentar e permanente de todas as camadas da parede de uma artéria, ou seja, de pelo menos 50% mais que o diâmetro normal.
Especificamente, o Aneurisma de Aorta mais comumente encontrado é o da Aorta Abdominal, quando a dilatação acontece na altura do abdômen. Caso não seja tratado, o Aneurisma cresce até que se rompa. É o problema vascular de maior mortalidade e acomete mais homens que mulheres, a partir dos 50 anos, aproximadamente. A incidência cresce com a idade. Cerca de 4% da população sofre com o problema e, em pessoas com mais de 60 anos, o percentual aumenta para 6%.
“Quando ocorre a ruptura do Aneurisma a taxa de mortalidade é altíssima, algo em torno de 90%. O que leva à morte é exatamente esse buraco que se abre na parede da Aorta Abdominal, com quadro de hemorragia interna severa e que pode matar em minutos, caso o atendimento médico não seja imediato. Esta é uma doença grave, mas facilmente detectável e apresenta bons resultados quando tratada corretamente e em tempo. O nível de complicações pós-cirurgia é baixo, algo em torno de 5 a 10% dos casos”, revela Dr. Dr. Antônio Quintella, membro da equipe Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital Vila da Serra (HVS).
Diagnóstico, sintomas, fatores de risco
Dr. Quintella lembra um curioso ponto que envolve a ocorrência do Aneurisma da Aorta Abdominal: o diagnóstico. “A maior parte dos pacientes, algo em torno de 75%, não apresentam sintomas. Os diagnósticos chegam por meio de exames clínicos destinados a outros fins, muitas vezes solicitados por médicos de outras especialidades, ou seja, provavelmente a prevalência da doença é maior em decorrência do subdiagnóstico”, enfatiza. O Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do HVS está devidamente aparelhado para realizar os exames necessários, como a radiografia simples do abdômen, a ultrassonografia abdominal e a tomografia com contraste venoso (angiotomografia), que irão avaliar os tamanhos e as formas do Aneurisma para a correta indicação do tratamento, se cirúrgico ou de acompanhamento.
Dr. Quintella ainda acrescenta que “por apresentar um quadro muitas vezes assintomático, vários pacientes, habitualmente, não são diagnosticados, e, quando o são, já estão com diâmetros aumentados ou com complicações decorrentes da doença”. Entretanto, há alguns sintomas clássicos que podem ser observados, tais como dores na região abdominal e lombar, náuseas e vômitos, frequência cardíaca acelerada, queda na pressão sanguínea, entre outros.
Existem também alguns fatores de risco que podem acelerar a ruptura do Aneurisma da Aorta Abdominal, como o tabagismo, a Hipertensão Arterial, Colesterol alto, Aterosclerose, além de fatores genéticos que podem ser considerados.
Tratamento e prevenção
Todos os esforços devem ser feitos para diagnosticar o Aneurisma de Aorta antes da ruptura, para o tratamento adequado. “Aneurismas Fusiformes, ou seja, que acometem todas as paredes das artérias, são tratados cirurgicamente a partir de diâmetros acima de 5,5 cm. Nos aneurismas que acometem apenas uma de suas paredes, intervimos, precocemente, devido ao maior risco de ruptura, mesmo em aneurismas menores. Entretanto, quanto maior o aneurisma, maior o risco de ruptura. Nos casos de ruptura ou crescimento rápido a indicação cirúrgica é imediata. Tudo isso antes que se desenvolvam maiores complicações ou sintomas”, ressalta Dr. Quintella.
Existem dois tipos de abordagem cirúrgica. Antes, a cirurgia era convencional, de grande porte, com extensa incisão abdominal e pós-operatório longo e sofrido para os pacientes. A porção dilatada do vaso era substituída por uma prótese de material sintético para restabelecer o fluxo sanguíneo. “Um importante avanço da cirurgia vascular foi a incorporação de técnicas endovasculares que permitem, atualmente, a correção de cerca de 80% dos aneurismas de aorta abdominal por meio do implante de endoprótese por via endovascular”, salienta Dr. Quintella, que ainda acrescenta que o Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do HVS utiliza em suas cirurgias as endopróteses, ramificadas e fenestradas. Procedimento moderno e menos invasivo. Os pacientes são tratados por meio de incisões na região inguinal, sem o acesso abdominal, reduzindo a morbidade pós-operatória e levando-os a uma recuperação mais rápida. O método de cirurgia endovascular foi desenvolvido por Parodi, mas somente na última década observou-se a sua maior utilização.
Entretanto, nem todos os Aneurismas de Aorta têm indicação cirúrgica. Há casos em que a doença existe, mas deve receber tratamento clínico, ou seja, ser acompanhada de forma regular, por meio de ultrassonografia para verificar o crescimento e ser tratada cirurgicamente no momento correto (quando, por exemplo, a artéria está crescendo acima de 1 cm de diâmetro por ano), ou em caso de alguma complicação.
Para o sucesso adequado do tratamento é necessário avaliar individualmente cada caso e selecionar os pacientes que devem ser submetidos ao procedimento endovascular ou à cirurgia convencional.
Para se prevenir e reduzir os riscos do Aneurisma da Aorta Abdominal é necessário a adoção de algumas medidas, como por exemplo, ter uma dieta saudável, praticar exercícios regularmente, não fumar, reduzir o stress e o colesterol e controlar a pressão arterial e a glicemia.